Fotos: Guilherme Kardel
Selic a 15% freia lançamentos e emprego, mas demanda por imóveis ainda sustenta mercado imobiliário, especialmente no DF
A taxa Selic em 15% tem preocupado o setor da construção, impactando tanto o mercado imobiliário quanto a geração de empregos. No Centro-Oeste, o segundo trimestre de 2025 registrou sinais de desaceleração e o fechamento positivo do semestre só foi possível devido ao desempenho expressivo do primeiro trimestre. O mercado de trabalho segue com saldo positivo. Na região Centro-Oeste, o número de trabalhadores formais na construção civil passou de 273,07 mil em junho de 2024 para 280,58 mil em junho de 2025, um avanço de 2,75% no período.
No 1º semestre de 2025 foram gerados 25.257 novos empregos formais na construção na região, número que ficou relativamente estável na comparação com igual período de 2024 (25.213). Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (27), em Brasília (DF), durante o evento CBIC Indicadores Regionais Centro-Oeste, realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em correalização com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) e a Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (ADEMI DF), com apoio da Fibra e patrocínio do Banco de Brasília (BRB).
“Os juros altos têm colocado um freio no setor. Apesar de ainda gerar empregos e investimentos, já sentimos os efeitos da taxa elevada. É preciso criar condições mais favoráveis de crédito e financiamento para que a construção siga contribuindo com a economia e com a geração de oportunidades para a população”, afirma Renato Correia, presidente da CBIC.

“A taxa de juros é um ingrediente decisivo na equação do setor da construção e influencia a tomada de decisão por novos investimentos do mercado imobiliário. O setor é uma dos que mais sofre os efeitos da alta, especialmente alta continuada como temos observado no Brasil”, comenta Paulo Muniz, vice-presidente da CBIC para a região Centro-Oeste e ex-presidente da ADEMI DF. “Além disso, juros altos penalizam a geração de emprego e a própria aquisição do imóvel”.
DF: velocidade nas vendas e demanda por imóveis
O mercado imobiliário do Distrito Federal é um destaque na região Centro-Oeste. Mesmo diante do cenário de instabilidade fiscal e alta nos juros, de acordo com a Pesquisa Índice de Velocidade de Vendas (IVV), o segmento apresentou um indicador de 10,4% no mês de junho. “Essa performance de vendas é positiva e bastante expressiva. A expectativa é de que, daqui a dez meses, tenhamos equacionado as ofertas hoje disponíveis e estejamos divulgando novos lançamentos”, explica o presidente da ADEMI DF, Celestino Fracon Júnior.

O dado é reforçado com a Pesquisa CBIC Indicadores Regionais Centro-Oeste. O estudo mostra que Brasília apresentou uma redução de 17,1% na oferta, se comparado ao primeiro semestre 2024. A cidade também apresenta a segunda maior disponibilidade sobre a oferta lançada: quando comparada às demais capitais do Centro-Oeste, o estoque em Brasília representa apenas 23,6% sobre o volume de unidades colocadas no mercado pelos empreendimentos ativos. Ou seja, 76,4% das unidades lançadas foram vendidas. A pesquisa ainda mostra que o acumulado de oferta de imóveis na capital federal é de 5.558 unidades.
Segundo Celestino Fracon Júnior, outro destaque do mercado imobiliário no DF é a diversidade de opções de imóveis, que contempla todas as classes e rendas. Ele cita novos empreendimentos no Noroeste, Águas Claras, Samambaia e Planaltina. “Recentemente, o BRB anunciou a redução da taxa de juros para financiamento imobiliário. Esse movimento do mercado já sinaliza uma retomada da economia. Hoje, no DF, a cada três financiamentos imobiliários, dois são feitos pelo BRB, que tem sido um grande parceiro local. Ou seja, o mercado tende a se fortalecer ainda mais”, acrescenta o presidente da ADEMI DF.
O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, participou do evento e falou de sua expectativa para retomada da economia. “Acreditamos em um cenário breve de redução da taxa de juros. Se esse cenário positivo realmente se confirmar, poderemos divulgar uma nova redução”, anunciou. Costa também reforçou o compromisso do banco em melhorar o processo de avaliações para concessão de crédito imobiliário. “Estamos engajados em melhorar a experiência do cliente, trazendo mais rapidez e eficiência”, pontuou.

Alinhado às tendências tecnológicas, o presidente apresentou a ideia de um projeto de venda online de imóveis no DF. “Teríamos um sistema de gestão de dados financeiros e oferta. Podemos pensar em um registro temporário, enquanto não se registra o imóvel no cartório, como se fosse um contrato eletrônico”, exemplificou.
Desempenho do mercado de trabalho a longo prazo
No Brasil, a construção civil criou mais de 150 mil novas vagas de janeiro a junho deste ano, refletindo a relevância do segmento para a economia. A manutenção da Selic em 15%, patamar mais alto em quase 20 anos, e a projeção de que só volte a 10% em 2028, representam um risco direto para o fôlego do mercado de trabalho. “No Centro-Oeste, assim como acontece no Brasil, o mercado de trabalho continua positivo e pujante. Mas, em função das taxas de juros temos uma preocupação com o desempenho do setor da construção no médio e longo prazo”, destaca a economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos.

O levantamento mostra ainda que, no primeiro semestre de 2025, o estado de Goiás criou 11.020 novas vagas e Mato Grosso abriu 8.997 postos de trabalho, concentrando juntos a maior parte da expansão regional. Em seguida, Mato Grosso do Sul acrescentou 4.292 empregos formais e o Distrito Federal contabilizou 948 novas vagas no setor. Os números mostram a força desses estados na absorção de mão de obra, enquanto o DF, apesar de concentrar quase 80 mil trabalhadores com carteira assinada na construção civil, apresentou ritmo de crescimento mais moderado.
Minha Casa Minha Vida
O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) tem sido um dos principais pilares de sustentação do mercado imobiliário no Centro-Oeste em 2025. Mesmo diante da queda de 10,6% nos lançamentos no semestre, se comparado ao mesmo período de 2024, e da redução de 19,6% do Valor Geral de Vendas (VGV) na região, o programa garantiu fôlego ao setor.
Em capitais como Goiânia e Cuiabá, o MCMV respondeu por parcela significativa da produção, mantendo a absorção de mão de obra e ajudando a equilibrar os números regionais. Outro destaque é a velocidade de comercialização dos empreendimentos. O Minha Casa Minha Vida não mantém estoque em nenhuma das capitais da região, evidenciando um cenário em que, se por um lado os lançamentos são rápidos, por outro, as vendas acontecem em ritmo ainda mais acelerado.
Esse escoamento confirma a forte demanda habitacional, sobretudo no padrão econômico. Ainda assim, os dados revelam que o ritmo de lançamentos no Centro-Oeste ainda não contempla a demanda nesse segmento. “É como se a região estivesse invertida”, esclarece Fábio Tadeu Araújo, CEO da Brain Inteligência Estratégica. Segundo ele, enquanto o segmento de médio padrão aumentou sua participação em 64,3% nos lançamentos, houve queda tanto no MCMV, que respondeu por cerca de 35% da produção, quanto nos imóveis de luxo, com apenas 3,7%.

Indicadores Centro-Oeste
O saldo entre lançamentos e vendas foi negativo no Centro-Oeste, com 10.181 unidades lançadas e 11.905 unidades vendidas no primeiro semestre de 2025. Entre as capitais, Goiânia foi destaque, com 4.667 unidades lançadas e 4.451 vendidas. Brasília teve o menor volume de lançamentos desde 2021, com 1.916 unidades, mas registrou 3.211 vendas. Campo Grande lançou 778 e vendeu 903, enquanto Cuiabá lançou 440 unidades e vendeu 777 no semestre. Esse saldo negativo entre lançamentos e vendas reforça o sinal de escoamento do estoque e de pressão sobre a oferta.
A oferta final da região caiu 2,9% em relação ao segundo trimestre de 2024, totalizando 21.312 unidades disponíveis, segundo o levantamento. As capitais concentram 81,3% da oferta total da região. O Valor Geral de Vendas (VGV) do Centro-Oeste no semestre foi de 8,88 bilhões de reais, um crescimento de 37,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o VGV lançado totalizou 7,69 bilhões de reais, o que representa uma queda de 18%.
A pesquisa também revela que 48% dos domicílios das capitais do Centro-Oeste declararam intenção de adquirir um imóvel novo. Entre eles, 24% manifestaram desejo de compra nos próximos 12 meses e 6% em até 6 meses, reforçando a perspectiva de continuidade da demanda no curto prazo.
Com informações da CBIC
usuarioademi