“O tombamento é um benefício, mas também um custo para as pessoas. É momento de pressionar a Unesco e fazer uma revisão. O patrimônio tem que gerar benefício para o cidadão”. A recomendação sintetiza um dos caminhos propostos pelo urbanista francês Alain Bertaud durante palestra na sede do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) para discutir o tema planejamento urbano: o evento foi realizado na manhã dessa segunda-feira (23/10) como inspiração para a discussão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) do Distrito Federal, cuja revisão é objeto de oficinas realizadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) mobilizando toda a sociedade civil.
Com a autoridade de um trabalho técnico reconhecido mundialmente como referência em inovação na forma de propor o planejamento das cidades, Bertaud foi enfático ao defender que as cidades se organizem em torno do mercado de trabalho, oferecendo a infraestrutura que o cidadão precisa para ir e vir com facilidade e cumprir uma jornada laboral produtiva; e a combinação da revisão de dados e normas que impactam as decisões sobre a ocupação do solo. “Uma cidade tombada sem recursos vai se tornar uma cidade morta, decai com o tempo”, sentenciou.
Promovido pelo Sinduscon-DF em parceria com a Cidade Urbitá, o seminário com o especialista francês mobilizou integrantes do GDF, empresários do mercado imobiliário, engenheiros, arquitetos e urbanistas que atuam no setor da construção. O evento, que teve o apoio da Associação de Empresas do Mercado imobiliário do Distrito Federal (ADEMI DF), proporcionou uma troca de experiências de alto nível, com ampla participação de todos os presentes, por cerca de quatro horas.
“Ele é uma referência mundial em urbanização e, nesse momento, é muito importante para o DF ter ideias inovadoras para aplicar, de forma a estimular a expansão ordenada”, afirma Roberto Botelho, presidente da ADEMI DF. “Foi uma grande oportunidade de discutir esse tema, um vento de alto nível aqui no DF”, acrescentou. Durante o encontro, Botelho quis conhecer a experiência do especialista sobre como combater e controlar a ocupação ilegal nas cidades.
Em resposta, Alain Bertaud reafirmou a necessidade de rever as normas do tombamento e foi além: defendeu a liberação de partes novas do território para uso e uma melhor distribuição da oferta de emprego e da população. “A primeira cidade planejada na Grécia nbão tinha zoneamento”, mencionou. “Hoje, as empresas podem existir em qualquer lugar. A separação de usos é muito danosa”.
Evitar erros conhecidos – Na sua percepção, mais vale regular a conduta que o uso, ou seja, apontar para o cidadão limites na forma de usar determinado espaço, atuando sobre temas como o barulho etc. Além disso, o especialista apontou que a combinação de emprego, moradia e mobilidade é o tripé do planejamento urbano bem-sucedido, observando a necessidade e demandas do cidadão e as mudanças que as cidades atravessam.
Presidente do Sinduscon-DF, Adalberto Valadão Júnior deu boas-vindas ao francês e destacou a importância do evento para iluminar a discussão em torno do PDOT. “Será uma oportunidade única para debater os desafios de Brasília nos dias de hoje, considerando as soluções e experiências mundo afora. O objetivo é saber como podemos canalizar esse conhecimento nas nossas legislações, promovendo mais qualidade de vida para a população do Distrito Federal como um todo”, afirmou.
CEO da Cidade Urbitá, Ricardo Birmann apontou a importância do especialista para o urbanismo mundial e a forma como conduz seu trabalho. “Arrisco dizer que não há ninguém que tenha tido experiência prática tão ampla quanto a sua, de forma que seus insights para o PDOT, particularmente nos ajudando a evitar erros já cometidos em outros lugares, serão muito valiosos para Brasília”, ressaltou.
O 1º vice-presidente do Sinduscon-DF e diretor de política habitacional da ADEMI DF, João Accioly, sublinhou que a troca de experiências com Alain Bertaud será um marco na discussão sobre o PDOT, trazendo ideias novas sobre como se deve pensar e executar o planejamento de infraestrutura das cidades, considerando pontos essenciais, como mobilidade urbana e necessidade de se investir em ciclovias ou em metrô, a depender do perfil e tamanho da população. “Ele vai apresentar dados mais precisos e reais para que se consiga fazer legislação que dê condição para se garantir equilíbrio e qualidade de vida para os cidadãos”, diz.
Aos 84 anos, o francês esbanjou vitalidade e simpatia. No auditório do Sinduscon-DF respondeu perguntas, tirou fotos e concedeu autógrafos ao seu mais novo livro Ordem Sem Design: Como os Mercados Moldam as Cidades. Bertaud ocupou a posição de principal planejador urbano do Banco Mundial até 1999 – em 2012 tornou-se pesquisador sênior da Universidade de Nova York.
Imprensa Ademi-DF