O setor da construção registrou queda das atividades nos primeiros dois meses de 2023 em relação ao primeiro bimestre do ano passado e, pela primeira vez nos últimos dez trimestres, revisou para baixo a sua estimativa de crescimento, passando de 2,5% para 2%. O Índice do Nível de Atividade registrou 45,4 pontos ante 47,8 pontos no mesmo período de 2022, de acordo com os números divulgados hoje, 11, pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O recuo reflete nos indicadores de confiança dos empresários e nas expectativas para os próximos seis meses, impactados com a elevada taxa de juros, conforme a Sondagem da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o apoio da CBIC.
O presidente da CBIC, José Carlos Martins, apontou como fatores para a redução de expectativas a perda de recursos da caderneta de poupança, motivada pela migração para outros investimentos mais atrativos por causa da elevada taxa de juros, e a falta de atualização dos valores para construção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ele apontou que o teto do valor dos imóveis financiados pelo FGTS está defasado em consequência do aumento do custo da construção.
“A caderneta de poupança não consegue financiar, e o os limites previstos no Fundo de Garantia não alcançam o valor do imóvel praticado hoje. Há um limbo: não há dinheiro onde é possível financiar e, onde há dinheiro, não há limite técnico para isso”, afirmou o presidente da CBIC. Segundo Martins, o Conselho Curador do FGTS está sensível à questão, mas não se reuniu ainda neste ano. “O conselho não está inteiramente composto. Faltam indicações para as funções dentro do quadro de governo, portanto a composição do conselho ainda não está completa”, afirmou. “Esse é um problema que precisa ser encarado de frente”, completou.
No ano passado, de acordo com Martins, foram injetados R$ 340 bilhões na economia, somando a caderneta de poupança, o fundo de garantia, as três parcelas de financiamento, a parte paga pelo comprador, mais o subsidio. “Qualquer queda nisso será muito dinheiro que deixará de ir para a economia”, disse. Outras decisões, segundo Martins, impactam os recursos do fundo para investimentos em habitação e precisam ser tomadas, como o crédito consignado e o fundo garantidor.
Martins considerou “uma coisa maluca” a eventual possibilidade do uso de recursos do FGTS para a compra de automóvel. “Você encontra umas coisas malucas que querem desviar dinheiro do Fundo de Garantia que não tem pé nem cabeça. Não sei porque constantemente alguém tem essas ideias que não atendem o interesse do povo brasileiro”, disse.
A economista Ieda Vasconcelos, da CBIC, afirmou que a pesquisa mostra que as expectativas dos empresários estão menos intensas. “A expectativa indica que a construção crescerá pelo terceiro ano consecutivo acima da economia brasileira. Entretanto, pela primeira vez, nos últimos dez trimestres, o setor revisa para baixo o percentual de incremento de suas atividades. A expansão de 2023 deverá ser a menor dos últimos três anos, mas acontecerá em cima de um patamar mais elevado”, afirmou.
Apesar de o resultado em 2022 ter sido positivo, com crescimento de 6,9%, os dados mostram que a construção civil perdeu fôlego no último trimestre do ano passado. Houve uma queda de 0,7% em seu PIB no quarto trimestre de 2022 em relação ao terceiro trimestre do mesmo ano. O último registro de recuo de um trimestre em comparação ao imediatamente anterior havia sido no início da pandemia, no período de abril, maio e junho de 2020.
O índice de confiança dos empresários da construção no primeiro trimestre deste ano registrou 50,8 pontos, o que significa 5,1 pontos abaixo dos 55,9 registrados no primeiro trimestre de 2022. No mesmo período em 2017, esse índice foi de 50,5.
O menor dinamismo das atividades nesses primeiros meses de 2023 também provocou queda das expectativas do setor. De 57,4 pontos registrados no primeiro trimestre de 2022 para 52,9 pontos no primeiro trimestre de 2023. De acordo com o levantamento, foi também o menor patamar para um trimestre desde 2017, quando foi registrado o índice de 48,9 pontos. A expectativa de lançamentos de novos empreendimentos, apesar de ainda positiva, encontra-se no menor patamar médio dos primeiros três meses do ano, desde 2017.
Os dados divulgados mostram que o volume de financiamento imobiliário por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o número de unidades financiadas com esses recursos da caderneta de poupança no primeiro bimestre deste ano são os menores dos últimos três anos. Foram financiados R$ 24 bilhões nos dois primeiros meses de 2021, e R$ 26,3 bilhões, em 2022, e R$ 22,3 bilhões em 2023, também referentes aos dois primeiros meses.
A caderneta de poupança vem perdendo recursos há dois anos consecutivos e já acumula perdas de R$ 157 bilhões de janeiro de 2021 até março deste ano. Em 2021, o volume de saques foi superior aos depósitos em R$ 34,755 bilhões e, em 2022, a captação líquida negativa foi de R$ 80,944 bilhões, correspondendo ao pior resultado da série histórica da aplicação divulgada pelo Banco Central (1995).
Martins afirmou que os dados apresentados pela economista mostram que a construção ainda está 17,16% inferior ao pico de suas atividades registrado em 2013 e início de 2014, e pode demorar a recuperar a posição. “Se for considerada a expectativa de crescimento para 2023 como constante, o setor só retomará o desempenho anterior em 2032.”
O mercado de trabalho formal sente os efeitos da queda de atividades da construção. O setor continua gerando novos empregos formais, mas perdeu intensidade em relação aos anos anteriores. Os resultados positivos registrados no primeiro bimestre de 2023 evidencia o ciclo de negócios em andamento. De acordo com dados do Novo Caged, do Ministério do Trabalho, nos primeiros dois meses deste ano foram 60.592 novas vagas no setor ante 76.251 em 2022.
A construção de edifícios foi o segmento com a maior redução no ritmo do seu mercado de trabalho, no acumulado dos dois primeiros meses de 2023. Enquanto em 2022 foram gerados 36.397 empregos nesse segmento, em igual período, foram 25.705, uma queda de 29,38%.
Em um recorte por estado, São Paulo, com 21.752, continua sendo destaque e aparece como o maior gerador de novos empregos no primeiro bimestre deste ano. Minas Gerais vem em segundo lugar, com 5.298 vagas no mesmo período. No primeiro bimestre de 2023, apenas os estados de Roraima, Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará apresentaram saldo negativo no setor da construção – a diferença entre admitidos e desligados.
Ribas do Rio Pardo (MS) foi a segunda maior responsável pela criação de empregos no setor, atrás da cidade de São Paulo (9.611 empregos), no primeiro bimestre de 2023. Do total de 2.373 vagas geradas na construção no município, 1.736 são do segmento de montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas. Do total de 2.717 novos empregos em Ribas do Rio Pardo, 87,34% foram na construção.
O 96º Enic é realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), conta com a parceria da FEICON; o apoio do Sesi e do Senai; e tem o patrocínio da Caixa Econômica Federal, Sebrae, Mútua, Zigurat, Totvs, Mais Controle, CV, Sienge, Orçafascio, Kone, PhD Engenharia, Alto QI, Acate, Brain e Ingevity.
Veja aqui todos os números e gráficos do desempenho econômico da indústria da construção civil.
(Com Agência CBIC)
Imprensa Ademi-DF